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Francisco Marshall,
arte-historiador, arqueólogo, pianista.

Há um fundo mental e cultural onírico onde as imagens estão vivas e livres, e encontram seus caminhos, suas danças, seus ritos mágicos. É um espaço à uma infinito e próximo, envolto em aura de tempo fluído, povoado de seres misteriosos, afetuosos, inspiradores. O reino das imagens oníricas é multiverso revelador de nosso ser, de memórias culturais preciosas e de poderes que vagam no mesmo mundo em que a mente objetiva por vezes sucumbe, cativa do cotidiano. Mas então vem a arte de Carla Barth para mergulhar em denso mar de sonhos, vagar entre imagens míticas e depois retornar com o saber de visões e formas plenas, fantasias cândidas com desejos e espírito lúdico, que a artista entrega de forma pura, direta e linda. Eis a bela arte, entre a cultura, o sonho e a vida, eis a pena e o pincel de Carla, abrindo janelas oníricas e acalentando uma parte pura de nossa sensibilidade, de nossas mentes ainda amigas de mundos mágicos.

Desde a era paleolítica, na aurora da humanidade, diante de paisagens impregnadas por feras possantes, nosso convívio com animais e sua representação em imagens tornaram-se parte de experiências do sagrado e também de ensaios em que nossa condição foi sendo definida conjuntamente, entre humanos e animais. Hoje, em cavernas bem iluminadas em circuitos urbanos, como esta galeria Calafia, reencontramos a memória e a imagem vital desse universo especulativo, em que somos grandes e pequenos entre micros e magnos seres que miam outros poemas, e que nos ouvem e acompanham atentos quando queremos nos comunicar ou bailar, brincando de roda com animais amigos.